Eu moro em Taubaté. A USP para mim é só um ponto de orientação intelectual. Não tenho relações afetivas com essa comunidade.O que não escondeu o meu horror ao ver que pessoas apanhavam
Bater é errado, minha mãe me disse. Apanhar dói. E Infelizmente eu só voltei a tomar uma posição sobre isso quando a normalidade foi quebrada. Por que para mim, terrivelmente, se tornou natural que as pessoas “abaixo de mim” apanhassem. Voltar a ordem é tudo. Meu Deus, que ordem? Lendo e vendo o que aconteceu, apenas uma coisa me ocorreu: a culpa daquela violência e de muitas violências é minha.
Sou eu, que apático, alimento um espírito Coletivo de Violência que é quem realmente assina embaixo o direito à truculência, muitas vezes disfarçada com a máscara do bom tom.
Não é apenas o governador, ou o policial, ou o juiz, ou o bandido que autoriza “tocar terror geral”; sou eu, um pacato taubateano, que engordando a Cultura da Violência com o meu dinheiro, o meu pensamento, o meu prazer estético etc é que autorizo o espancamento de estudantes, o espancamento de pobres, o assassinato de presos, a caça a policias, os abusos infantis, o estrangulamento da liberdade, o aumento de decibéis e discussões; a violência que me prejudica, machucando de quem eu gosto; desenvolve organismos, igrejas comitês, cooperativas, associações que trabalham insidiosamente na jardinagem de mais violência, cria Datenas e afins.
O pior, ou melhor, é saber que eu gosto de me alimentar de violência, Deus.
Gabriela Leite, uma mulher excepcional, em sua última entrevista ao Roda-Viva, declarou: Essa é uma das épocas mais conservadoras que vivemos.
E para mim, mais conservadorismo é igual a mais violência, habilmente trabalhada, me alimentando e me dando prazer.
Esse post é uma espécie de resposta/ diálogo com dois posts que mexeram comigo.
O texto da Olívia Maia, O outro é o texto da Mariana, via Marcos Donizetti